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Viagem a Ilha Sonante (ou Brasilândia)

François Rabelais (1494 - 1553) já no séc. XVI fez esta crítica contundente a Igreja que chega aos nossos dias  como parábola a classe política e judiciária brasileira.

Viagem a ilha Sonante

"A ilha era habitada por pássaros grandes, belos e polidos, em tudo semelhantes aos homens da minha pátria, bebendo e comendo como homens, digerindo como homens, dormindo como homens.
Vê-los era uma bela coisa. Os machos chamavam-se clerigaus, monagaus, padregaus, abadegaus, bispogaus, cardealgaus e papagaus - este era o único de sua espécie .
Perguntamos porque havia só um papagau.
Responderam-nos que dos clerigaus nascem os padregaus, dos padregaus nascem os bispogaus, destes os belos cardealgaus e os cardealgaus, se antes não os leva a morte, acabam em papagau, de que ordinariamente não há mais que um, como no mundo existe apenas um Sol. Mas donde nascem os clerigaus?
Vêm d'outro mundo, em parte de uma região maravilhosamente grande, que se chama Dias-sem-pão, em parte doutra região Gente-demasiada. A coisa passa-se assim: quando, nalguma família desta última região, há excesso de filhos, corre-se o risco de a herança desaparecer, se for dividida por todos; por isso, os pais vêm descarregar nesta ilha Corcundal os filhos a mais. Dizemos "Corcundal" porque esses que para aqui trazem são em geral corcundas, zarolhos, coxos, manetas, gotosos e malnascidos, pesos inúteis na terra. Maior número ainda vem de Dias-sem-pão, pois os habitantes dessa região encontram-se em perigo de morrer de fome, por não ter com que se alimentar e não saber nem querer fazer nada, nem trabalhar em arte ou ofício honesto, nem sequer servir a outrem ou cometeram algum crime que poderá levar à pena de morte então voam para cá, tomam aqui este modo de vida, e subitamente engordam e ficam em perfeita segurança e liberdade."

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