Pular para o conteúdo principal

Ritos sociais autômatos

      O que preenche o dia dos indivíduos é busca pelo alimento, aparatos para os diversos tipos de prazeres e o próprio gozo enquanto subjetividade, ou seja, buscamos variantes ou formas de viver que confluam para a segurança, prazer e independência.
      Existe um gozo incontido na independência, mas como esta é uma sensação que nos dá "satisfação" vivemos por "ela" e ponto - sendo uma sensação não entendida como uma busca utópica não haverá metáforas suficientes para explicá-la. Nem como explicar as razões que nos fazem acreditar que um dia atingiremos alguma forma de independência. Apenas queremos. Recusamo-nos a acreditar que ela (a independência) não exista. Dai passamos a mascarar nossas buscas em qualquer forma de prazer tal qual sejamos bem vistos pelos demais de nosso grupo.
      Essa busca é naturalizada na práxis perfumada pela fé na sociedade, fé no dinheiro e por fé na Fé: a meta fé. A última é também responsável por boa parte das desgraças do mundo (independente do seu deus) tanto quanto o dinheiro, ou seja, não ele exatamente, mas ambição que se deposita nele. Sobram então os que têm  fé na sociedade. Será que estes merecem isenção de culpa e devam ser salvaguardados até das sátiras ou de algum apotegma que mostre suas fraquezas, sua carne flácida? Dizem querer um mundo melhor onde todos tenham direitos: comer, beber, ser feliz como quiser, etc.,. (é o que quer e o que diz todo sujeito devidamente empregado, urbanizado, pagador de impostos e que quer ter uma família bem aventurada atendendo a demanda de um estado inconsciente). E se suas boas intenções não forem tão boas assim, se forem novos sofistas? E se forem apenas autômatos em busca de um papel na sociedade das mimeses? 
     Incansavelmente pessoas subjugam, principalmente, seus compatriotas em nome de estereótipos criados em certos contextos históricos cristalizados no tempo e tornados preconceitos de todos os gêneros possíveis: naturalidade, raça, credo, cor, opção, posição social, grau de instrução, etc.,.
     Enquanto o povo se distrai com eventualidades, banalidades e futilidades a vida real segue nas câmaras, presídios, hospitais, asilos, orfanatos, assembleias, comissões, hospícios e nos conchavos sórdidos dos donos do Poder. Do outro lado as escolas dizem ao sujeito (criança) que a vida social é de tal modo e não assim...  De alguma forma estão dando um não caminho ao cercearem de modo excessivo e até provocando uma excitação baseada no "não".
     O que é ensinado (nas escolas, igrejas, palestras, deliberações legislativas, etc.,) quanto a humanidade dos sujeitos raramente é posto em prática - apreendo, constantemente, pais transmitirem formas variadas de preconceitos aos filhos; conheço a mentira nesse modelo de família qual os filhos são criados numa creche ou pela empregada enquanto seus pais (instrumentos do mercado) pensam que dar o melhor para seus filhos é: uma viagem a Disney, levá-lo ao shopping no final de semana ou ensinar a torcer para seu time. Noto filhos repetirem os pais nas formas invariáveis de preconceitos. Compreendo disputa a todo tempo em seus conceitos pré-estabilizados: Províncias mais ricas zombam das menos favorecidas (financeiramente) como habito cultural qualquer. A subjetividade do outro ou sua cultura vale nada para primeiro.
   Rumamos em busca ideias uniformes (de norte a sul) a todo instante, mas não somos capazes de compreender que existe uma equivalência intrínseca no que está perto ou entre nós e que nossa satisfação só é digna quando não é ofensiva ao próximo. 
E agora? Acreditar ou depreciar a sociedade? Talvez se os indivíduos não fossem tão hipócritas fosse mais fácil decidir; mentimos para quem afinal?
     Ao buscarmos tantas veleidades deixamos o real de lado e defendemos fantasias estereotipadas numa totalidade que julgamos vantajosas, ou seja, voltamos a buscar o "todo" no vazio das alegrias ofensivas, no escárnio sobre o um patrício ou um estrangeiro.
Em síntese. Continuamos animais sem entender nosso igual, ainda presos a fundamentos criados por "linhas imaginárias políticas" que agrupam modos e visão de mundo de um todo (povo, nação, Estado), limitando-se, sentindo-se melhor que o outro por não fazer parte daquele contexto, mas o que é o seu melhor se ele parte do desprezo ao seu patrício ou a um humano como pretende considerar-se. Onde está a razão? Nestes está impregnada a proporção de soberba e farsa, seguem autômatos dados a bestialidades, valorizando ou deixando de valorizar o próximo por sua origem, posses, ascendência e honrarias. Como se não existisse uma humanidade em cada um independente do que se tem ou se deixa de ter. Segue assim a sociedade das competições a sociedade das vantagens, do salve-se como puder...                                               

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A pedagogia da existência e a pedagogia da essência.

Resenha: A pedagogia e as grandes correntes filosóficas.  A pedagogia da existência e a pedagogia da essência.  (Bogdan Suchodolski) É apontado como espectro fundamental da questão dos entendimentos pedagógicos, isto é, a linha inicialmente escolhida delimita o campo interpretativo indicador da realidade pretendida para a área em questão. Pedagogia de Platão e pedagogia Cristã A diferenciação do mundo da “ideia perfeita” e do “mundo das sombras” não é exógena ao ser, mas imanência diante das buscas e realizações. A busca da realidade ideal funda a pedagogia da essência ou como dizem: sua essência verdadeira. Para Platão o conhecimento vem das “reminiscências observadas no mundo da ideia perfeita”. A pedagogia cristã reformulou este pensamento rompendo com o empirismo apoiando-se na ideia de um mundo ulterior e adequado a vida do espirito. Ainda sob influência da filosofia o cristianismo se apega a propósitos peripatéticos no conjunto antinômico matéria – forma aceit

Minha futura ex-mulher

Diz a convenção: – Que fale agora ou cale-se para sempre! Fim da frase início de uma vida a dois (no mundo ocidental e na bitola religiosa mercantilista de algumas sociedades: casamento). Isso pode ser bom para muitos, tanto é que os índices aqui, na China e na Índia estão crescendo com o vapor das respectivas economias.  Sei que partes dos casamentos não precisam de um padre com suas frases monótonas nem um monge dizendo: “quando estiverem falando línguas diferentes basta ir para um canto da casa e ficar zen”, mas constantemente há um protocolo tosco que quase sempre dá em nada ou em juízo - independente da cultura. Dia desses estava dado nos jornais que o índice de casamento está em alta por aqui - também o divórcio tem crescido não proporcionalmente. Os separados casam-se novamente inflando o índice. Estranho, mas casam-se pela segunda e terceira vez. Tenho um amigo que complementa essa estatística em todos os formatos. A busca, o encontro, a união, a desunião e a repetiçã

Vulnerant omnes, ultima necat

Esta inscrição (título) em Latim (como outras tantas) encerra um caráter excessivamente preciso sobre a vida ou sobre nossas ações e o modo como "não" percebemos o mundo. Talvez possa induzir fracos pensarem que nada valha fazer porque a ordem de tudo é um fado... Mas o que pensam sobre tal frase os que não se importam com os demais?   Não percebem que caminhamos todos para um nada comum! Homicida não é somente aquele sujeito que tira a vida do outro, mas todos aqueles que impõem suas veleidades sobre os demais para vantagem pessoal. Qual a diferença de falastrões, profetas, marqueteiros, palestrantes e políticos? Nenhuma... Em equivalência não atentam para os ponteiros da vida e não entendem o significado dos dias em que " vulnerant omnes, ultima necat *. Que sim, algumas de suas verdades não valem um quinto do que lhe é dado. Que tantas outras que tornariam a vida de "muitos" melhor é deixada de lado... Porém cada um olha apenas pa